quinta-feira, 17 de junho de 2010

Transfobia Não

Por Rosilene Miliotti


A presidente da Astra Majorie Macchi.
Foto: Rosilene Miliotti


Entre abril a maio deste ano foram contabilizados pela Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (Astra) o assassinato de sete travestis no estado do Rio de Janeiro. No entanto, a presidente da Astra, Majorie Macchi acredita que o número real de homicídios transfóbicos possa ser bem maior. De acordo com a instituição, o número de mortes violentas entre as travestis e transexuais está aumentando nas estatísticas de todas as pesquisas realizadas sobre violência e discriminação sofrida entre a população LGBT no Brasil desde o final de 2009.

Um dos casos recentes e de repercussão na imprensa foi o da travesti Taila. Ela foi assassinada e teve o corpo carbonizado pelo universitário e lutador Leonardo Loeser, no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio. O caso ganhou a capa de um veiculo carioca com a chamada de capa “Lutador faz churrasco de traveco”.


A presidente da Astra Majorie Macchi. Foto: Rosilene Miliotti


“A gente fica sabendo que uma travesti foi morta em um lugar, outra em outro lugar, mas não dá para computar. As sete mortes que estamos divulgando são números oficias, mas os extra-oficiais são muito maiores. Denunciar a transfobia é necessário”, diz Majorie. Ela reforça que falar de homofobia é importante por questões políticas, “mas quando falamos de preconceito contra o homossexual, as pessoas pensam em coisas como um casal de lésbicas proibido de se beijar em uma pizzaria. Mas travestis e transexuais estão sendo assassinadas brutalmente”.

Moradora da Vila do João, no conjunto de favelas da Maré, a travesti Sabrina Homs, de 35 anos, diz que já foi vitima de violência na própria comunidade. “Eu estava saindo de casa, indo para uma boate quando começaram a fazer chacota de mim. Fui tirar satisfação e aí começou a confusão. Entre várias pancadas que levei acertaram uma paulada em minha cabeça. Fiquei surda do ouvido esquerdo e tudo ficou por isso mesmo”, conta. Para Sabrina, as travestis sofrem violência maior do que os gays e as lésbicas porque se expõem mais.

“A sociedade tem que entender que os direitos adquiridos pela mulher, o negro e os homossexuais não são um privilégio, mas sim a conquista de um direito do ser humano”, explica Majorie, que atribui esse excesso de violência contra as travestis e transsexuais como conseqüência de um processo histórico. Ela compara a violência contra as travestis ao caso do índio que foi queimado em Brasília por jovens de classe média alta, que justificaram o ato dizendo que pensavam ser um mendigo. “Algumas pessoas da sociedade não nos veem como seres humanos dignos de respeito e por isso acreditam que toda violência que exercem sobre nós é justificável, não só com as travestis, mas com o índio, o negro ou a empregada doméstica”, exemplifica Majorie.

Majorie afima ainda que o expressivo número de casos de violência contra as travestis são o penúltimo estágio do grande fluxo de violência a que estão sujeitas. “A violência se inicia na infância com a exclusão escolar e a fragilização do vínculo familiar devido a sua identidade de gênero. Por fim, na fase adulta, esses indivíduos não têm preparo técnico e educacional e encontram dificuldades no acesso ao mercado formal e acabam vendo na prostituição sua única forma de sustento”, conta. Majorie é travesti e mesmo sendo presidente de uma instituição que luta pela garantia de direitos, constantemente passa por vários tipos de discriminação.

Pesquisas revelam a violência pelo Brasil
Pesquisa realizada pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) em 24 estados e no Distrito Federal, registrou 198 assassinatos contra gays, travestis e lésbicas em 2009, nove a mais do que no ano anterior. Os dados são baseados em notícias de jornal e internet, já que não existem estatísticas governamentais sobre violência contra LGBT.

Entre os mortos, 117 gays (59%), 72 travestis (37%) e 9 lésbicas (4%). O Grupo Gay da Bahia coleta informações há 30 anos no país. Apesar do programa federal “Brasil sem Homofobia”, o Brasil continua sendo o campeão mundial de homicídios contra LGBT, com 198 mortes, seguido do México com 35 e dos Estados Unidos com 25 mortes anuais. A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil, vítima da homofobia. Nos dois primeiros meses de 2010 já foram documentados 34 homicídios contra homossexuais.

Acesse o Manual "Gay vivo não dorme com o inimigo", produzido pelo Grupo Gay da Bahia

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