sexta-feira, 10 de abril de 2009

Seminário de Mídia e Violência


Nos dias 26 e 27 de março, jornalistas e cientistas políticos e sociais do Brasil, Canadá e Estados Unidos se reuniram, na Escola de Comunicação da UFRJ, para discutir a relação entre mídia e violência. Estiveram presentes no evento os jornalistas Fernando Molica (jornal O Dia), Raphael Gomide (Folha de S. Paulo), Marcelo Moreira (editor-chefe RJ TV 2ª edição), Ivana Bentes (diretora da Escola de Comunicação da UFRJ), Jorge Antônio Barros (editor-adjunto jornal O Globo), Tião Santos (coordenador da Rádio Viva Rio), Anabela Paiva e a cientista social Silvia Ramos (organizadoras do livro Mídia e Violência.

A “banalização da violência” foi um dos temas mais debatidos e criticados durante o evento. “As pessoas leem as notícias de crime e não se chocam mais, não se importam”, comentou o jornalista canadense Doug Saunders, chefe da sucursal de Londres do jornal Globe and Mail.

De acordo com os convidados do seminário, o crescimento da violência faz com que os profissionais de imprensa criem formas de adaptar a apuração e cobertura dos acontecimentos. Uma das preocupações apontadas foi a segurança dos jornalistas que fazem cobertura policial ou de guerra.

Neste cenário de novos fatores que interferem na cobertura, as pesquisadoras Anabela Paiva e Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), autoras do livro Mídia e Violência, ressaltaram que a pesquisa feita para o livro demonstrou que a polícia não é mais a fonte principal dos jornalistas. Atualmente, há uma preocupação em mostrar o lado de quem sofre diretamente com a violência, diariamente, nas grandes cidades brasileiras.





Favela e violência


Outro fator levantado pelos debatedores o foi o crescente preconceito que permeia os espaços populares, ligando a violência diretamente às favelas e à pobreza. Em sua intervenção, Sílvia Ramos citou alguns dados dos estudos realizados pelo CESeC. Segundo a pesquisadora, os dados mostram que a polícia carioca é a que mais mata no mundo. A proporção é de 48 homicídios por 100 mil habitantes. Quando verificado números entre jovens, negros, do sexo masculino de 22 a 24 anos, a taxa é de 400 para cada 100 mil habitantes.

O jornalista e líder comunitário da comunidade Santa Marta, Zona Sul do Rio, Itamar Silva, esteve presente no segundo dia de debates e lamentou a forma como a imprensa trata as vítimas da violência em muitos casos. “Ainda há certa marginalização quando retratam a criança, por exemplo, que mora na favela como menor, considerando o jovem pobre uma ameaça”, afirma Itamar.




Mídia e violência em livro


Em 2007, a jornalista Anabela Paiva e a cientista social Sílvia Ramos, coordenadora do CESeC, lançaram o livro “Mídia e Violência – Novas tendências na cobertura da criminalidade e segurança pública no Brasil”. O livro é resultado de pesquisa realizada pelo CESeC desde 2004 e é uma profunda reflexão sobre a cobertura de segurança pública.

O livro reúne entrevistas realizadas com cerca de 90 jornalistas, artigos e depoimentos de policiais e especialistas no tema, além da apresentação dos resultados da análise do conteúdo de 5.165 notícias. A publicação se inspirou no tipo de diálogo que a Agência de Noticias dos Direitos da Infância (ANDI) promove entre as redações, as universidades de comunicação e as entidades relacionadas à agenda do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos.

A publicação tem distribuição gratuita para centros de pesquisas, universidades e organizações não- governamentais (ONGs).